Estilo clássico revisitado: elementos que marcaram época e que seguem aclamados no décor

O requinte das boiseries e das molduras vitorianas, além do charme das peças retrô, são alguns dos exemplos de itens que podem ser aplicados dentro de uma leitura contemporânea nos projetos de interiores 

Nesse dormitório projetado pela arquiteta Ana Rozenblit, a boiserie, criada no século XVII, ganhou uma roupagem atual com a inserção de uma cabeceira estofada e luminárias douradas. A técnica de mesclar elementos clássicos com itens recentes resulta em um cenário disruptivo e repleto de camadas para apreciação

A arquitetura é uma arte milenar que coleciona, através dos séculos, muitos recursos que expressaram soluções ou mesmo a visão daquilo que era considerado belo e valoroso para aquele período. Todo esse conhecimento é acumulativo e não necessariamente excludente ou datado, por isso muitos métodos clássicos podem – e devem, por assim dizer – ser usados, até os dias de hoje, dentro de uma roupagem moderna e criativa. 

Para a arquiteta Ana Rozenblit, responsável pelo escritório Spaço Interior, revisitar clássicos é uma importante ferramenta de trabalho, pois muitas dessas estratégias se mantêm por sua atemporalidade ou por incorporarem novos recortes para a vida moderna. “Um clássico recebe esse status por ser algo que marcou a história e dificilmente será esquecido“, explica a profissional sobre o tema. “Utilizar esses elementos entrega ao décor cenários disruptivos e irreverentes que são pura criatividade!“, completa a arquiteta que costuma mesclar o passado com o presente para desenvolver projetos inesquecíveis e personalizados.

Confira, a seguir, uma seleção de recursos que ressurgiram em aplicações poderosas que a profissional adicionou em seus projetos:

Boiserie

Muito popular na arquitetura desde o século XVII, a boiserie nos remete ao movimento artístico Rococó, quando as molduras nas paredes conquistaram os palácios franceses. Atualmente, são feitas com MDF, gesso ou poliuretano e diversificaram sua presença em diversos cômodos de um imóvel.

“Trabalhar com a boiserie em imóveis com pé direto duplo é uma jogada interessante para valorizar a amplitude das paredes”, indica a arquiteta Ana Rozenblit, que é apaixonada pelo recurso e o inseriu nessa moderna cobertura. Através dela, living e área gourmet tornaram-se ainda mais majestosos, evocando a sensação de infinitude e sofisticação

Elas também são ótimas escolhas para abrilhantar os dormitórios, principalmente quando o décor se guia dentro de um caminho estilístico que cruza os estilos romântico e clássico. “Sem dúvidas, é o ambiente onde os clientes mais solicitam a boiserie e não é para menos, pois ela entrega uma atmosfera onírica e elegante onde todos se sentem príncipes e princesas de suas próprias trajetórias“, analisa a profissional sobre como o artifício que conversa com o imaginário e contribui com a construção da casa dos sonhos. 

Utilizando a boiserie, este dormitório exalta uma paleta de cores lírica pela predominância do cinza, tanto nos móveis quanto no enxoval, com a delicadeza complementar do rosa | Projeto: Spaço Interior | FOTOS: Kadu Lopes

Brise-soleil 

Com historiadores e estudiosos marcando o boom dos brises entre as décadas de 1930 e 1940, durante o modernismo arquitetônico, o Brise-soleil (do francês, quebra-sol) ganhou duas versões: uma mais ampla para a construção civil, controlando a entrada do sol em prédios e edificações robustas, e em versões residenciais, com tamanho condizente com os projetos de interiores.

Eu adoro trazê-lo por sua funcionalidade em varandas amplas ou ambientes integrados que podem contar com uma divisória vazada“, pontua a arquiteta que trabalha com o mecanismo para delimitar espaços e controlar a entrada de iluminação natural nas áreas sociais de um lar. 

Com ripas largas na cor branca, o brise desenhada pela arquiteta Ana Rozenblit possui a movimentação que possibilita o livre-arbítrio do morador: quando fechada, separa o estar da varanda gourmet, mas do contrário, a sua abertura, na diagonal, integra os dois espaços

Quando aberto, o brise enaltece o elo entre o sofisticado e moderno presente na área social deste apartamento localizado na capital paulista. O branco das lâminas combina com a base tonal neutra escolhida pela arquiteta Ana Rozenblit para o décor 

A essência vitoriana

Milenares e protagonistas de grandes estudos nos campos da física e da filosofia, os espelhos foram inseridos no décor com o auxílio de molduras grossas e ornamentais, protegendo a peça no transporte e se destacando como centro na decoração. Hoje em dia é bastante comum que os espelhos inseridos nos projetos residenciais revelem guarnições minimalistas ou invisíveis, porém se engana quem pensa que a rebuscada referência barroca saiu de moda!

Com um cantinho especial para maquiagem, essa penteadeira de mármore ganhou uma companheira à altura: um espelho com moldura dourada e desenho vitoriano, junto com a cadeira com design de época

O emprego de molduras antigas é uma maneira de contar e prestigiar a história humana através da arquitetura de interiores“, descreve Ana. Ela conta que sua adição se traduz como “um ponto inesperado no cômodo que, como eternizado no livro ‘Alice Através do Espelho’, nos transporta para outro mundo através do reflexo emoldurado“. 

Em ambientes sociais e até mesmo nos privativos, como nos dormitórios, é possível contar com molduras que entreguem um toque diferenciado na decoração, uma vez que as peças são, por si só, pontos atenção e deslumbre |

A ode aos eletrodomésticos retrô

As décadas de 1950 e 1960 acompanharam uma verdadeira febre sobre os eletrodomésticos coloridos – uma tendência lançada nos Estados Unidos que conquistou o mundo e se estendeu para o Brasil até meados dos anos 80. “Eles nos trazem uma memória afetiva muito grande, uma vez que encontramos com alguns desses eletros na casa de nossos avós e antepassados“, reflete a arquiteta sobre a importância imaterial das peças. 

Para essa varanda gourmet, a arquiteta Ana Rozenblit inseriu um frigobar vermelho para atender aos moradores e visitantes que se concentram no espaço para encontros e confraternizações. A peça é um ponto de cor essencial para o projeto, ganhando protagonismo, uma vez que a paleta neutra o permitiu se sobressair de maneira intencional e coesa

Sobre Spaço Interior

Presente há 25 anos no mercado de arquitetura e decoração, a Spaço Interior Arquitetura tem no comando a arquiteta Ana Rozenblit. O escritório realiza dezenas de projetos por ano, que vão desde pequenas reformas até casas completas. As maiores inspirações da arquiteta vêm dos desafios propostos em cada obra. Sempre atenta às novidades do mercado e às necessidades do cliente, desenvolve soluções criativas e inusitadas para imóveis dos mais variados tamanhos.

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Projeto: Spaço Interior | FOTOS: Kadu Lopes