Deficientes visuais resgatam músicas de roda e promovem inclusão em escolas de Joinville

Apresentações acontecem no dia 28 de novembro e 2 de dezembro, agora nas escolas Escola Municipal João Costa e Escola Municipal Doutor José Antônio Navarro Lins

A música como refúgio, superação e ferramenta de inclusão. Foi com esse espírito que três músicos com deficiência visual subiram ao palco das salas de aula de escolas municipais de Joinville em outubro. O projeto, contemplado pela Lei Aldir Blanc, realizou quatro apresentações gratuitas voltadas a alunos do 1º ao 6º ano, combinando canções infantis, danças de roda e histórias de vida que emocionaram e inspiraram — e continuará encantando novos públicos nas próximas semanas.

Além das apresentações realizadas nas escolas Professora Maria Regina Leal e Doutor Abdon Baptista, nos dias 17 e 21 de outubro, o projeto seguirá circulando pela cidade com mais duas sessões: 28 de novembro e 2 de dezembro, agora nas escolas Escola Municipal João Costa e Escola Municipal Doutor José Antônio Navarro Lins, ampliando ainda mais o alcance das ações de inclusão, cultura e memória.

Com cerca de 45 minutos de duração, as apresentações resgatam músicas tradicionais que atravessaram gerações e aproximam os estudantes da vivência de pessoas com deficiência visual. Para o coordenador do projeto, Nery Júnior, a proposta une cultura, memória e inclusão.

“Queríamos levar às escolas a perspectiva de que a pessoa com deficiência visual é como qualquer outra: conversa, dá risada, tem sentimentos. A inclusão não acontece fazendo por nós, mas fazendo conosco”, destaca.

Histórias que transformam

Entre os músicos está Jean Pierre, 34 anos, que nasceu com deficiência visual causada por rubéola congênita. Desde a infância, ele encontrou na música um caminho para se inserir socialmente.

“A música é um incentivo muito grande, onde eu me sinto inserido na sociedade. Também é um refúgio maravilhoso para nós”, conta.

Jean já participou de bandas de igreja, dupla sertaneja e apresentações em escolas. O retorno ao ambiente escolar, agora como artista convidado, tem sido uma oportunidade de inspirar crianças e mostrar que as diferenças podem ser pontes de aprendizado e convivência.

A trajetória de Bruno, 22 anos, também revela a força transformadora da música. Aos 15, ele perdeu a visão em decorrência de um tumor cerebral. O violão e a bateria, que já faziam parte da sua rotina desde os 8 anos, tornaram-se fundamentais no processo de adaptação.

“Voltar a tocar sem a visão foi uma barreira muito grande, mas a música me impulsionou. Foi nela que consegui me sentir parte de um grupo, de uma sociedade. Ela me ajudou a superar a tristeza e a encontrar novos caminhos”, relembra.

Cultura que conecta gerações

O projeto nasceu de conversas entre os músicos sobre as brincadeiras e canções que marcaram a infância da geração dos anos 1990. Jogos como taco, cabra-cega, pingue-pongue e músicas de roda como Siranda, Sirandinha e A loja do mestre André inspiraram atividades que resgatam essa memória cultural dentro das escolas.

“As crianças hoje sabem tudo sobre tecnologia, mas muitas vezes desconhecem as músicas e brincadeiras tradicionais. Queríamos resgatar isso e, ao mesmo tempo, propor um momento de interação verdadeira, com dança, música e histórias”, explica Nery.

As apresentações incluem momentos de participação direta dos estudantes, que cantam, dançam e interagem com os músicos, criando um ambiente de integração e diálogo sobre diversidade.

Cultura acessível

A realização tem sido possível graças à Lei Aldir Blanc, que garantiu recursos para instrumentos, equipamentos e transporte. Para os artistas, trata-se de uma política cultural essencial para democratizar o acesso à arte e fortalecer a produção local.

“Sem essas leis, talvez essas crianças fossem muito mais alienadas à globalização. A cultura viabiliza desde a logística até o registro profissional do trabalho, garantindo que mais pessoas tenham acesso a ele”, afirma Nery.

Música como legado

Mais do que apresentações, o projeto deixa marcas nas crianças: a valorização da diversidade, a consciência sobre inclusão e o contato com manifestações culturais que resistem ao tempo.

“Nosso objetivo é que os alunos levem dessa experiência uma lição de empatia e respeito. Mostramos que a deficiência não é uma barreira para viver, criar e ensinar; pelo contrário, é uma oportunidade de enxergar o mundo de uma forma diferente”, conclui o coordenador.

As próximas apresentações acontecem nos dias 28 de novembro e 2 de dezembro, nas escolas João Costa e Doutor José Antônio Navarro Lins, reforçando a proposta de levar música, acessibilidade e cultura a diferentes regiões da cidade.