João Carlos Martins realiza concerto na Sala São Paulo, celebrando o lançamento de sua biografia definitiva
Noite contou com momentos emocionantes e grandes clássicos regidos pelo maestro junto da Bachiana Filarmônica SESI-SP, orquestra sob sua direção
Na última terça-feira, dia 4, aconteceu na Sala São Paulo um concerto especial do pianista João Carlos Martins, em celebração do lançamento do livro ‘O Indomável: João Carlos Martins, entre som e silêncio’, sua biografia definitiva. O espetáculo foi gratuito, com sistema de distribuição de ingressos que se esgotaram rapidamente após o anúncio.
No repertório, o maestro visitou grandes clássicos regendo a Bachiana Filarmônica SESI-SP, orquestra sob sua direção, com apresentações da Suite Orquestral n.3 de J.S.BACH, e Bachianas Brasileiras n.4, n.7 e n.5, de H.VILLA LOBOS. A apresentação também teve a participação de Jamil Chade, autor do livro, tocando flauta, a convite de João Carlos. Jamil é jornalista e escritor, cresceu dentro de orquestras tocando flauta e teve a oportunidade de unir sua paixão pela escrita com a paixão por música ao mergulhar nesta biografia.
A noite foi cheia de emoção aos que estavam presentes, e o maestro estava muito feliz pela celebração. O evento também contou com homenagens especiais da produtora Carla Camurati, que leu trechos do livro, e Leandro Karnal, que fez um discurso exaltando a carreira de João Carlos, junto de sua importância para a música clássica.
“O que dizer a um homem que enfrentou quase tudo em sua vida, do sucesso absoluto à dor física excruciante, da glória absoluta à fogueira da vida adulta. Falemos do sucesso. João Carlos Martins tocou em todas as salas importantes do mundo, ao lado das melhores orquestras, dos mais renomados regentes. João conheceu o século XX ao vivo. Sob um êxito de décadas, nada mais a dizer, apenas contemplar esta sala magnífica lotada e ver a emoção de uma noite que reúne tanta gente. A obra de João Carlos Martins pode aqui ser comprovada por amigos, fãs, jovens que ele incentivou, e um público sedento por sua arte. Olhemos ao redor deste momento fáustico, eis a prova de uma vida única”, disse o escritor.
SOBRE O LIVRO
João Carlos Martins é considerado um dos maiores pianistas intérpretes de Johann Sebastian Bach, com quem divide, além do primeiro nome, um amor profundo, inquestionável e autêntico pela música. Nesta biografia, o jornalista Jamil Chade expõe suas facetas mais públicas e seus segredos: pianista prodígio, músico silenciado pelo próprio corpo, personagem com erros e acertos, reinvenção ambulante, maestro indomável.
Da infância debruçada sobre o piano, sob o olhar atento do pai obcecado pelo sucesso do filho e disposto a recorrer a métodos questionáveis para isso, a juventude como uma promessa realizada de talento e fama e a consagração interrompida em seu auge pela gradual atrofia nas mãos, João reinventou o conceito de sobrevivência a cada silêncio forçado a suportar. Mesmo quando esteve afastado dos palcos, como no curto período em que foi empresário esportivo e durante sua passagem breve e polêmica pela política, a esperança de que a música retornasse para ele o impediu de ficar à deriva.
Muitas sessões de fisioterapia o levaram de volta aos palcos, mas o agravamento de lesões neurológicas, acidentes e um episódio de violência forçaram a interrupção na carreira de pianista, dessa vez de forma definitiva. Suas mãos não deixaram de ousar trazer Bach à vida, agora como maestro. Muito mais que um exemplo de superação e perseverança, no entanto, o que se destaca em sua trajetória é o talento e a profunda dedicação à música como ferramenta transformadora de vidas.
“Sem resposta diante de seus apelos cada vez mais enfáticos, a cubana decidiu entrar no quarto onde estava o músico e, chacoalhando seus ombros, explicou que não tinham tempo a perder. João Carlos Martins colocou os óculos, na esperança de entender se ainda estava no meio de um sonho. Praticamente, não havia dormido. Horas antes, era aclamado no principal teatro de Havana e em seguida, na companhia de uma mulher designada pelo governo local como sua acompanhante e de uma garrafa de rum, descobriria, aos 20 anos, o fascínio das praias desertas do mar caribenho, regadas a beijos. Como uma cena do realismo fantástico latino-americano, a interrupção do silêncio, do sonho e do amor da noite cubana tinha um motivo urgente. O corpo diplomático estrangeiro havia sido informado que poderia ocorrer nos dias seguintes uma possível invasão da ilha, e os últimos voos comerciais para deixar Cuba estavam quase todos já lotados”_trecho do capítulo de abertura de O indomável
SOBRE O AUTOR
Cruzando fronteiras com refugiados, testemunhando crimes contra a humanidade, viajando com papas ou cobrindo cúpulas diplomáticas, Jamil Chade percorreu mais de setenta países. Com seu escritório na sede da ONU em Genebra, o jornalista conquistou diversos prêmios no exterior e no Brasil por sua defesa da democracia e dos direitos humanos. Chade publicou outros oito livros, três dos quais foram finalistas do prêmio Jabuti. Com sua flauta, ele cresceu dentro de orquestras. Agora, une suas duas paixões – a escrita e a música – nesta obra.
FOTOS: Fernando Mucci