Sob ataque psicológico: como manter a saúde mental em meio aos bombardeios de notícias da guerra

O mundo não fala em outro assunto a não ser o triste conflito entre Israel e o grupo Hamas. Uma guerra sem precedentes que já fez milhares de vítimas inocentes, e que não há sinais de que vai acabar – pelo menos por enquanto.

Nas conversas entre amigos e familiares, nos noticiários e através da internet, somos bombardeados com notícias sobre os ataques à civis e as bases dos dois países.
Mas como se defender do impacto mental e manter nossa saúde em dia, mesmo sabendo que a guerra acontece fora do nosso país?

Segundo a Dra. Karla Françoise Gonçalo, psicanalista em saúde mental, essa exposição crônica de informações, inclusive de relatos extremamente perturbadores como execuções de bebês, pode ter repercussões significativas em nossa mente, mesmo que ocorra de forma subconsciente.

“Essa situação pode desencadear uma resposta crônica, ativando a liberação de hormônios do estresse, como o cortisol, que, por sua vez, pode impactar negativamente a função cerebral, incluindo áreas relacionadas ao processamento emocional e ao controle do estresse. Esses efeitos podem ocorrer mesmo que a pessoa não perceba imediatamente, mas podem se manifestar por meio de sintomas de ansiedade, depressão ou transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) em um momento posterior. ”

Ainda segundo ela, a reação emocional às notícias de atrocidades em guerras pode variar entre jovens e mais velhos devido a diferenças em experiências de vida, maturidade emocional e capacidade de resiliência. Os mais jovens podem ser mais suscetíveis a experimentar ansiedade e angústia devido à sensação de vulnerabilidade e ao impacto emocional imediato. Por outro lado, os mais velhos também podem ter uma compreensão mais profunda das complexidades da vida e da morte.
“No entanto, a resposta emocional é altamente individual e não pode ser generalizada ”, explica Karla.

Como falar sobre isso com amigos e familiares
Guerras sempre fizeram parte da humanidade. A grande questão no momento é que, com o avanço da tecnologia e o acesso fácil à internet, imagens e notícias de conflitos ganham proporção sem tamanho. Redes sociais como WhatsApp são um canal submerso de conteúdo que, muitas vezes sem a checagem dos fatos, atingem famílias inteiras de forma sem controle. Hoje, qualquer criança já tem um aparelho celular nas mãos.
Por isso, lidar com informações sobre guerra pode ser desafiador, especialmente quando essas discussões estão presentes na roda de amigos e familiares.

“Uma abordagem útil é estabelecer limites saudáveis, expressar suas preocupações de forma respeitosa e direta, estabelecer um horário específico para se informar e procure equilibrar as conversas com temas mais leves e positivos”, afirma.

Sintomas e comportamentos
Para saber se a nossa saúde mental está sendo afetada é preciso ficar atento aos sintomas como aumento da ansiedade, alterações de humor, insônia e pensamentos intrusivos sobre o conflito (o mais frequente). Também é preciso praticar o autocuidado.

“Isso inclui manter uma rotina regular, fazer exercícios físicos, praticar técnicas de relaxamento, buscar atividades que lhe tragam alegria, como hobbies, e estar ciente de seus próprios limites emocionais ”, afirma a especialista.

Ajuda
O ideal é que a pessoa procure um especialista em saúde mental sempre que sentir que suas emoções, pensamentos ou comportamentos estão interferindo negativamente no dia-a-dia. Se estiver enfrentando dificuldades devido às notícias de guerra ou qualquer outra situação estressante, ela deve procurar ajuda imediatamente para uma avaliação e tratamento correto da doença. Até por que, sem saúde mental não há saúde.