Silvia Câmara Martinez lança livro “Cartas da Natureza”

Uma escuta sensível entre palavras, símbolos e alma

Por: Viviane de Oliveira

Na contemporaneidade agitada e fragmentada em que vivemos, encontrar uma voz que propõe o retorno ao essencial é um verdadeiro respiro. Silvia Câmara Martinez, psicóloga, escritora, facilitadora de vivências simbólicas e estudiosa de espiritualidade, mitologia e danças circulares, lança um convite à reconexão interior através de sua obra Cartas da Natureza — um livro que transcende os limites da literatura tradicional e se transforma em ferramenta poética e terapêutica.

Nesta entrevista à Revista Vi Magazine, Silvia compartilha as inspirações por trás do seu trabalho, sua escuta profunda do ser humano, a influência da natureza e do sagrado, e a proposta simbólica do oráculo que acompanha o livro.

Seu olhar, ao mesmo tempo afetuoso e filosófico, transita com maestria entre a psicologia profunda e as linguagens da arte, da espiritualidade e do corpo, tecendo uma jornada que não promete respostas prontas, mas provoca perguntas íntimas e transformadoras.
Prepare-se para um mergulho sensível e autêntico, onde a palavra se torna ponte e a escuta…

Silvia, sua formação, entre outras, transita entre a psicologia, a literatura, as danças circulares e a espiritualidade. Como essas áreas se conectam na sua visão de mundo e no seu fazer terapêutico?

Penso que somos múltiplos enquanto humanos e, assim, precisamos que o material e o simbólico sejam integrados à vida em todas as suas formas.

As áreas das minhas formações, aparentemente distintas, na verdade se entrelaçam como uma tapeçaria, onde cada fio oferece um matiz, uma linguagem, buscando tocar o que é essencial.

A psicologia me permite escutar a alma humana com profundidade: seus ciclos, símbolos e mistérios.
A literatura me oferece palavras, além de imagens e metáforas, para expressar o indizível e abrir caminhos para a reflexão e o encantamento.
Com as danças circulares, aprendi que o corpo é instrumento de comunhão e traz a potência dos gestos ancestrais e da coletividade como princípio de vida.

Falar sobre espiritualidade — essa dimensão invisível que a tudo sustenta, como uma raiz que nutre, mesmo sem a vermos — é o meu grande convite ao silêncio, à presença e à escuta, para nos reconectarmos à nossa essência ou ao que chamo de Fonte.

Então, considero que todas as experiências e aprendizados funcionam como instrumentos para a ampliação da nossa visão de mundo e, no meu caso, favorecem também a escuta terapêutica.

Como a vivência em Salvador, com suas raízes culturais e espirituais tão fortes, influenciou sua forma de enxergar o ser humano e o sagrado?

Viver em uma terra onde o sagrado pulsa no dia a dia, onde em cada esquina há uma história de fé e ancestralidade, aguçou ainda mais o meu olhar para o que chamamos de “invisível”.

O ser humano é mistério em movimento e, quando permitimos sentir com profundidade, o sagrado se apresenta. Assim é no movimento das ondas, no vento que sussurra e traz lembranças, no corpo que fala por gestos, nos mitos curativos; enfim, a simbologia presente na cultura baiana abriu e abre espaço no meu psiquismo para o acolhimento e o cuidado comigo e com o outro.

A sua escuta é muito presente em seu trabalho. Em que momento da sua vida você percebeu que ouvir a natureza e a alma poderia ser uma via terapêutica?

A partir das minhas próprias experiências — mesmo ainda quando criança — sempre fui mais do ouvido que da fala. Sentia a necessidade de estar na natureza, como digo no prefácio de Cartas da Natureza: ela sempre foi meu porto seguro, meu lugar no mundo, meu canto de refazimento e cura.

A partir de inúmeras conexões facilitadas pela minha interação com a natureza, sinto-a como uma via terapêutica potente e de fácil acesso.

O que a levou a escrever não só com palavras, mas com imagens, símbolos e meditações como forma de expressão terapêutica?

Na prática da psicologia, principalmente nas formações que tenho, trabalhamos com diversas possibilidades. A narrativa é uma delas: trazemos histórias, contos e ouvimos as histórias das pessoas; os sonhos, os símbolos e as imagens que despertam memórias, atravessam defesas e explodem em consciência.

Da mesma forma, as visualizações e meditações permitem acessar espaços internos — às vezes esquecidos, outras vezes desconhecidos — mas que, a partir do acesso, podem promover um novo olhar, uma transformação, e isso é verdadeiramente terapêutico.

“Cartas da Natureza” é mais que um livro — é um convite a uma jornada simbólica. Como nasceu esse projeto e o que ele representa na sua própria caminhada?

Tenho o hábito de fazer anotações de ideias e insights que me chegam, e costumo separar tais ideias — que se transformam em pequenos textos — por assunto ou ordem de interesse. Alguns se transformam em vivências e rodas de conversas, outros em poesia e contos.

Especificamente este livro nasceu das minhas experiências pessoais e da observação de experiências coletivas, que me levaram a querer partilhar conhecimentos adquiridos ao longo da minha trajetória enquanto estudiosa de psicologia, filosofias, religiões, literatura, mitologia e espiritualidade, entre outros.

Esse desejo chegou muito fortemente no período da pandemia, mas o grande chamado dele não foi — e não é — para as narrativas daquele período, e sim um chamado para o despertar consciente, compreendendo melhor as nossas ideias e emoções, tomando decisões mais coerentes e nos aproximando cada vez mais da nossa essência, lançando luz às nossas jornadas, dando vida às narrativas escondidas no nosso interior e buscando encontrar significado e sentido, inspiração e direção, alinhados com a harmonia universal, que considero a grande jornada da nossa existência.

Você traz referências da mitologia, dos arquétipos e da psicologia profunda. Como esses saberes ajudam o leitor a se reconectar com sua essência?

Esses temas — que podem ser chamados de saberes — oferecem pontes simbólicas entre o nosso mundo interior e o mundo exterior. Ambos nos falam de algo atemporal e ancestral que pode ressoar em cada um de nós da maneira mais próxima da nossa essência, trazendo uma lembrança ou uma descoberta.

O livro propõe uma escuta da natureza como espelho da alma. Que conselhos você daria a quem deseja iniciar essa escuta mais intuitiva?

Na verdade, em psicologia não damos conselhos; favorecemos um processo de escuta, de autoescuta e de reflexão, no qual o paciente/cliente — no caso do livro, o leitor — possa se abrir a estímulos externos e descobrir possibilidades internas.

Então, o ponto-chave é o querer: estar aberto e presente para captar os sinais que nos chegam.

O que você deseja que cada leitor leve consigo após esse mergulho sensível entre palavras, imagens e alma?

Desejo, primeiramente, que aproveitem o percurso da leitura. Em seguida, que se permitam pausar, refletir, aventurar-se em novas descobertas e percebam reencontros. Que seja, verdadeiramente, um mergulho interior, profundo e suave, que possa lançar luz às suas jornadas de autoconhecimento e autotransformação.

Em Cartas da Natureza, você propõe diálogos entre a psicologia e diversos campos, como a metafísica, a mitologia, a arte e a espiritualidade. Como esses encontros ampliam a escuta terapêutica e ajudam o leitor a acessar camadas mais sutis da alma?

Somos personagens da terceira dimensão e, como tais, sempre estamos em relação a algo ou alguém. Nesse sentido, proponho diálogos entre diversas áreas do conhecimento, tendo a psicologia como viés principal que perpassa todos eles.

A proposta de Cartas da Natureza é o processo de autoconhecimento com vistas à autotransformação, a que o leitor pode se permitir adentrar.


Ao chamar o livro de oráculo simbólico, você nos convida a um olhar mais interno, profundo e não divinatório. Como você acredita que o uso dessas cartas pode transformar o cotidiano de quem se propõe a escutá-las com intenção?

Quando digo que Cartas da Natureza não tem o aspecto divinatório é porque não pretende prever nem trazer respostas prontas, mas apresentar chaves simbólicas que permitam o acesso a espaços internos que conduzam o leitor à reflexão.

Ao abrir intencionalmente o livro e escolher uma ou mais cartas, inconscientemente nosso olhar desacelera e a escuta se aprofunda. Ocorre algo que chamamos de estado de presença: você está ali, disposto a olhar para si e, principalmente, para dentro; priorizar seu olhar interno, sem julgamentos e sem preconceitos; simplesmente se entregar e abrir mão do controle.

Torna-se um exercício de autocuidado — e esse hábito pode ter um efeito muito benéfico no dia a dia.


Você menciona o conceito junguiano de individuação como uma harmonização entre o consciente e o centro interior. Como espera que o leitor caminhe nesse processo ao longo da leitura e do uso do oráculo?

Esse conceito de individuação é como um caminho de reconexão com o centro do ser, com aquilo que somos em essência. Vai para além das personas ou máscaras que desempenhamos, para além dos papéis e expectativas.

É uma jornada viva e mutável; não é um destino, mas uma travessia que busca fazer com que possamos nos expressar com a máxima proximidade da nossa essência.

Na medida em que o leitor é convidado a olhar para dentro, pausando e refletindo, quando as imagens e textos conseguirem trazer luz às partes adormecidas ou esquecidas, ele sentirá que algo muda, algo retorna à sua essência — e isso poderá ser transformador, como reconhecimento daquela individuação.


Convite para o lançamento

A Vi Magazine tem o prazer de convidar seus leitores para o lançamento das obras das irmãs escritoras Silvia Câmara Martinez e Lúcia Câmara, que irão lançar seus livros no mês de agosto.

Os eventos contarão com a presença das autoras, sessão de autógrafos e momentos especiais de troca com o público.

As obras abordam, sob diferentes perspectivas, temas ligados ao autoconhecimento, propósito e desenvolvimento humano — e representam um marco nas trajetórias das escritoras, unindo experiência pessoal, escuta profissional e escrita sensível.

Programação dos lançamentos

📍 São Paulo
01 de agosto, às 17h30
Sala Unique Jardins – Rua Augusta, 1939 – Sala 31 – Cerqueira César

📍 Salvador
15 de agosto, às 18h30
Porsche Center – Av. Tancredo Neves, 2011 – Caminho das Árvores

📍 Fortaleza
27 de agosto, às 18h
Ideal Clube – Av. Monsenhor Tabosa, 1381 – Meireles

🔗 Confirmação de presença pelo site: https://rsvp.luciacamara.com
🟣 A entrada é gratuita e aberta ao público.


Assessoria de imprensa: Marcia Dornelles Comunicação – @marciadornellescominicacao
Fotos: Marta Suzi