TÉCNICAS NÃO INVASIVAS PARA MODULAR O CÉREBRO GANHAM ESPAÇO NA SAÚDE MENTAL
Profissional de Joinville participa de programa em Harvard e revela avanços que reduzem a dependência de medicamentos
Por: Viviane de Oliveira
As chamadas técnicas de neuromodulação — métodos não invasivos que estimulam o cérebro por meio de impulsos elétricos, magnéticos, ópticos ou auditivos — estão revolucionando os tratamentos em saúde mental. Segundo pesquisas recentes da Harvard Medical School, a prática já apresenta resultados promissores no combate à depressão, ansiedade, TDAH, insônia e dores crônicas.
Dra. Karla Françoise, de Joinville (SC), esteve na instituição norte-americana para se aprofundar no tema e destaca que os protocolos mais recentes permitem regular circuitos cerebrais específicos com maior precisão. “O foco é tratar a causa, remodelando as redes neurais e reduzindo a dependência de medicamentos”, explica.
Entre as novidades, estão mapeamentos cerebrais de alta resolução, integração com inteligência artificial e equipamentos de última geração que tornam os procedimentos mais personalizados e acessíveis. De acordo com a especialista, muitos pacientes já relatam melhora significativa após cinco a dez sessões.
Aplicada com forte respaldo científico em países como Estados Unidos e Canadá, a neuromodulação desponta como uma tendência mundial. A expectativa é que a prática se torne cada vez mais presente no Brasil, abrindo caminho para uma nova era de abordagens seguras, eficazes e individualizadas no cuidado com a saúde mental.
A saúde mental é um dos pilares do bem-estar humano e vem ganhando cada vez mais atenção diante do ritmo acelerado da vida moderna. Estresse, ansiedade e depressão estão entre os principais desafios da atualidade, impactando diretamente a qualidade de vida, a produtividade e os relacionamentos. Mais do que ausência de doenças, cuidar da saúde mental significa investir em equilíbrio emocional, autocuidado e acesso a tratamentos eficazes e individualizados, capazes de promover não apenas alívio de sintomas, mas também o fortalecimento da resiliência e do potencial humano.
Em entrevista, Dra. Karla Françoise compartilhou suas impressões sobre as novas possibilidades da neuromodulação e como esses avanços podem transformar o futuro da saúde mental.
Quando uma pessoa deve procurar ajuda de um profissional para ter cuidados preventivos ou mesmo para tratamentos clínicos?
Karla: O ideal é não esperar o agravamento dos sintomas. Mudanças de humor persistentes, insônia, crises de ansiedade, dificuldade de concentração ou mesmo cansaço excessivo já são sinais de que o cérebro pode estar em desequilíbrio. Assim como cuidamos do coração ou da pressão arterial de forma preventiva, a saúde mental também deve ser monitorada. Buscar acompanhamento antes que os sintomas se tornem incapacitantes aumenta muito as chances de resposta positiva ao tratamento.
O que mais lhe chamou atenção nas pesquisas e práticas que conheceu em Harvard sobre neuromodulação?
Karla: O que mais me chamou atenção foi perceber como a medicina de precisão vem sendo aplicada de forma integrada à saúde mental. Em Harvard, os estudos mostram que não se olha apenas para o sintoma, mas para todo o conjunto que influencia o cérebro: testes genéticos, exames de sangue específicos, hábitos de vida e até mesmo a alimentação. Essa visão epigenética — de como o ambiente e o estilo de vida podem modificar a expressão dos genes — abre caminho para tratamentos muito mais eficazes e personalizados.
Outro ponto marcante foi a demonstração do quanto a neuromodulação pode se beneficiar desse avanço. Como o cérebro é plástico, ou seja, capaz de se reorganizar, os protocolos atuais permitem estimular circuitos específicos com altíssima precisão. Em vez de abordagens generalizadas, vimos protocolos que remodelam redes cerebrais de forma direcionada, potencializando resultados clínicos e reduzindo a dependência de medicamentos.
Essa convergência entre genética, epigenética e neuromodulação foi, sem dúvida, um dos aspectos mais transformadores das pesquisas apresentadas.
Quais são as principais diferenças entre esse método e os tratamentos convencionais com medicamentos?
Karla: Os medicamentos atuam de forma sistêmica, em todo o organismo, e por isso muitas vezes causam efeitos colaterais indesejados. Além disso, existe o risco de dependência química em alguns casos, bem como situações em que a medicação se mostra ineficiente para determinados pacientes, mesmo após várias tentativas de ajuste de dose ou troca de fármacos.
A neuromodulação, por outro lado, é direcionada: estimula circuitos específicos do cérebro relacionados ao quadro clínico do paciente. O foco não é apenas silenciar sintomas, mas remodelar a rede neural, promovendo equilíbrio funcional com maior precisão, menos efeitos adversos e menor necessidade de uso prolongado de medicamentos.
Em quais quadros clínicos a neuromodulação já mostra resultados mais rápidos e consistentes?
Karla: Os resultados mais consistentes têm sido observados em casos de depressão resistente a medicamentos, ansiedade, insônia, TDAH e dor crônica. Muitos pacientes relatam melhora já nas primeiras 5 a 10 sessões, especialmente em sintomas como qualidade do sono, regulação emocional e redução de dores persistentes.
Como o Brasil está em relação a países como EUA e Canadá na aplicação dessas técnicas?
Karla: Nos Estados Unidos e no Canadá, a neuromodulação já faz parte das diretrizes clínicas em várias áreas, sendo utilizada em grandes centros de referência. O Brasil ainda está em fase de expansão, mas cresce rapidamente. Já existem clínicas especializadas e profissionais capacitados, e a tendência é que a prática se torne cada vez mais acessível e integrada ao sistema de saúde, assim como ocorreu nesses países.
Quais são os próximos avanços esperados, especialmente com a integração da inteligência artificial na saúde mental?
Karla: A inteligência artificial será determinante para identificar padrões sutis no funcionamento cerebral e prever a resposta individual de cada paciente ao tratamento. A tendência é que os equipamentos se tornem cada vez mais precisos e capazes de se autorregular, ajustando a estimulação em tempo real. Isso significa protocolos mais rápidos, personalizados e eficazes.
Qual sua mensagem aos leitores, para que mesmo sem diagnóstico de doença, as pessoas possam (e devam) cuidar da saúde mental no dia a dia com hábitos saudáveis?
Karla: Cuidar da saúde mental não é apenas tratar doenças, mas investir em qualidade de vida. Pequenas atitudes diárias fazem diferença: manter uma rotina de sono regular, praticar atividade física, alimentar-se bem, cultivar relações saudáveis e reservar momentos para descanso mental. A prevenção é o maior aliado do bem-estar. O cérebro, quando cuidado, responde com mais clareza mental, equilíbrio emocional e resiliência diante dos desafios da vida.
