Deputado eleito na Itália faz uma análise do momento atual e fala das suas perspectivas

Deputado eleito na Itália faz uma análise do momento atual e fala das suas perspectivas

Foto: Deputado Fabio Porta

    Fabio Porta nasceu em Caltagirone, na Sicília – Itália, é formado em Sociologia Econômica na Universidade La Sapienza em Roma, com louvor, possui especialização “Educação de Adultos” na Universidade de Firenze. É autor de numerosos artigos e publicações em jornais italianos e estrangeiros. De 1982 a 1986 foi Secretário Nacional do Movimento Estudantil de Ação Católica Italiana.

    Para falar sobre a sua vitória na candidatura a deputado na Itália, avaliar as eleições italianas e a política mundial, que eu entrevistei com exclusividade, o Deputado, Fabio Porta.

Como foi ganhar as eleições para deputado na Itália?

  R: Foi uma enorme satisfação, tendo em vista que foi uma competição muito difícil, após a redução pela metade do número de parlamentares eleitos na América do Sul; os italianos com direito ao voto no Brasil é metade daqueles que vivem na Argentina e sabíamos que seria muito difícil manter, pelo menos, um dos três postos designados no Parlamento. Estou feliz de ter tido sucesso, graças também ao nosso candidato ao Senado, Andrea Matarazzo e ao ótimo resultado da lista do Partido Democrático na América do Sul.

Quais as principais propostas do seu programa de governo que serão implementadas no início do seu mandato?

    R:  Quero me concentrar na melhoria dos serviços consulares, aumentando os recursos destinados ao “fundo para a cidadania” que eu criei em 2016, utilizando 30% dos valores arrecadados pelos Consulados. Uma outra prioridade, é a aprovação da minha lei sobre o ensino das migrações nas escolas, para favorecer, na Itália, a cultura da inclusão e conhecer e apreciar as nossas grandes comunidades no exterior. Vou trabalhar com afinco para apoiar o “turismo de raízes”, ocasião para redescobrir os pontos de origem de nossa emigração e oportunidade de desenvolvimento para a Itália. Incentivar o estudo da língua italiana e os intercâmbios de jovens entre os italianos no mundo, como também os acordos entre pequenas e médias empresas dentro e fora da Itália.

Na sua avaliação, como foram as eleições para o parlamento italiano no dia (25/09) e como o senhor analisa a perda do pleito por parte de Andrea Matarazzo?

    R:  O Partido Democrático firmou-se, entre os italianos no mundo, como o primeiro partido, elegendo sete dos doze parlamentares. Um resultado importante, que confirma o grande consenso e o reconhecimento dos italianos no exterior em relação ao nosso constante e coerente trabalho. A candidatura de Andrea Matarazzo foi um sucesso, com mais de 32 mil votos e o apoio determinante para a conquista para uma cadeira na Câmara dos Deputados por parte do PD e por minha parte. Sabíamos que seria muito difícil conquistar também a cadeira do Senado, conhecendo a força história do MAIE na América do Sul e o seu grande radicamento na Argentina. Tenho certeza de que esse resultado é a base para a construção de um grande trabalho nos próximos anos, com a grande coletividade italiana do Brasil e da América do Sul, não só no campo político.

Qual a sua análise sobre a vitória da extrema direita na Itália e no que isso muda o cenário político mundial?

   R: A vitória da extrema direita na Itália era prevista. O partido de Giorgia Meloni beneficiou-se do fato de que, na legislatura passada, esteve sempre na oposição, tanto aos governos de direita quanto aos de esquerda. Veremos agora o que saberá fazer no governo, visto que governar é diferente de protestar. Nos preocupam algumas posições euro céticas, as atitudes fortemente xenófobas e as alianças desse partido na Europa e no mundo com organizações de extrema direita que se distinguem por atitudes de intolerância e radicalismo religioso. Esperamos que essas tendências não prevaleçam no governo italiano e, por isso, será importante a oposição firme e responsável do Partido Democrático.

Como o senhor avalia o cenário de polarização política vivido no Brasil?

    R:  A polarização e o extremismo do confronto político não são, infelizmente, um fenômeno somente brasileiro; trata-se de uma tendência mundial, acentuada pelo uso distorcido e manipulado das redes sociais que favoreceram a simplificação do debate político e a radicalização da relação entre os partidos. No Brasil, a eleição de Bolsonaro em 2018 representou o momento mais alto dessa tendência à polarização e, pelo que vi, a tendência piorou nos anos subsequentes justamente devido à maneira demagógica e provocatória do Presidente de compreender o seu mandato.  Espero que o Brasil e o mundo possam logo voltar a um confronto político baseado no respeito ao adversário, a um confronto entre propostas diferentes e à busca de soluções comuns para o bem do País.

Como o senhor classifica os discursos de ódio disseminados nas redes sociais e o aumento das “fake News”?

   R:  Considero as ‘fakes news’ o pior efeito da polarização do debate político. Infelizmente, foram utilizadas de forma sistemática e agressiva; tivemos um exemplo com a Brexit, na Grã Bretanha, e depois com a eleição de Trump, nos Estados Unidos. A campanha de Bolsonaro, e a sua presidência também, me parece, foram caracterizadas pelo recurso contínuo a informações falsas ou instrumentalmente distorcidas. Infelizmente, também nas eleições italianas, principalmente na América do Sul, manifestaram-se essas “anomalias democráticas”. Pessoalmente e, como Partido, temos sido continuamente objeto de “fake News” por parte de nossos concorrentes, principalmente por partidos de extrema direita.

Na sua opinião quem ganhará as eleições presidenciais no Brasil e quais os principais desafios que o presidente eleito terá?

    R: A poucas horas do voto posso somente dizer que todas as pesquisas apontam Lula Presidente, no primeiro e segundo turnos. Os desafios são enormes, do mesmo tamanho do Brasil. Não será somente reconstruir um País atormentado pela Covid, pela crescente pobreza e pela devastação ambiental. Deve-se, acredito, reconstruir também o senso cívico de um País dividido que deve voltar a ser unido em torno dos princípios inspiradores da Constituição e dos valores de comunidade que, ultimamente, vejo cada vez mais fracos e divididos.

Quais são as páginas em que as pessoas podem acompanhar os seus trabalhos?

     R:  O meu site: www.fabioporta.com, mas também os meus perfis das redes sociais. Facebook: Fabio Porta / Instagram: https://www.instagram.com/f.porta/ Twitter: porta2020

Quais as suas considerações finais?

    R:  Quero simplesmente agradecer os milhares de pessoas que apresentaram sua confiança e confirmaram seu apoio em mim para que possa mais uma vez representá-los no Parlamento Italiano. Estou feliz de não os ter desiludido e me comprometo desde agora a ser a voz de todos os italianos do Brasil, da América Meridional e do Mundo na Câmara dos Deputados. Colocarei toda minha paixão, meu empenho e a minha competência.