Adolescência: psicóloga dá dicas para os pais de como agir

Filhos precisam de espaço para terem novas experiências e arcarem com as consequências, mas os adultos também devem ficar de prontidão para agir quando necessário, diz psicóloga

Nos últimos meses seu pequeno começou a não querer cumprir regras e nem combinados. Passou a reclamar e colocar dificuldades em tudo. Além disso, tem argumento na ponta da língua e adora criar dramas. Esses são alguns sinais de que o seu filho já não é mais a criança que costumava ser. Ele está deixando a infância para trás, para entrar na pré-adolescência. Para entender essa fase e também apontar a importância do seu papel como pais, conversamos com Josiane de Souza, psicóloga especializada em terapia familiar  do Departamento de Estética Sadalla Amin Ghanem, empresa do Grupo Opty. Confira:

Quais são os primeiros sintomas que o filho está entrando na adolescência?

Josiane: muitos pais acham que o início da adolescência é marcado pelo desenvolvimento biológico da criança, as grandes mudanças no corpo da menina e do menino,  a menarca (primeira menstruação) e para os meninos o surgimento de pêlos, as mudanças na voz e os desejos sexuais.  Mas, nem sempre a adolescência inicia-se junto com a puberdade, ela é caracterizada como uma fase de transição entre a criança e o adulto onde ocorre o desenvolvimento biopsicossocial, ou seja, a criança passará por mudanças biológicas, psicológicas, emocionais e sociais. Segundo o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) é considerado adolescente jovens entre 12 e 18 anos. Sobre o aspecto psicológico um dos primeiros comportamentos que os pais podem notar é o afastamento familiar, um maior envolvimento com grupos de amigos e comportamentos de introspecção e acentuada função social.  

Como deve ser a comunicação verbal e não verbal entre pais e filhos?

Josiane: os pais devem conversar de forma aberta e clara com os filhos sobre todas as mudanças fisiológicas que eles estão passando nessa fase.  Além disso, é preciso ouvir e acolher as dúvidas e medos que os filhos têm. A adolescência é uma fase de muitas dúvidas, descobertas e muitas indagações,  por isso, é importante que os pais estipulem regras, limites e  apontem direções, mas sem deixar de demonstrar afeto, cuidado e proteção.  Os pais precisam apontar o caminho, mas deixar que os filhos aprendam a construir seus próprios caminhos, pois é assim que eles irão se desenvolver. Os adolescentes precisam encontrar nos pais um ponto de referência e segurança.

Quais as principais atitudes que afastam o adolescente?

Josiane: posturas muito autoritárias que não abrem margens para diálogos, lares desestruturados, disfuncionais e com padrões morais rígidos tendem a gerar conflitos entre pais e filhos. A internet tem ocupado um papel de ampla atenção e tempo na vida dos adolescentes, a pandemia potencializou isso pelo tempo excessivo de isolamento ser estabelecido como base de uma rotina familiar na vida dos adolescentes e crianças. 

É possível passar por essa fase de maneira tranquila? Quais suas dicas? 

Josiane: o ambiente familiar deve ser pautado no respeito, afetividade, proteção , diálogo, criatividade e tempo de qualidade em familia com atividades que saiam da rotina familiar.   Os pais precisam sincronizar trabalho, vida familiar com esse mundo dos filhos e dentro de alguns limites permitir que os filhos vivenciem experiências dessa fase de uma forma leve e agradável, pois eles estão crescendo e precisam disso para se desenvolver a sua identidade. Outro ponto importante é com relação a confiança que os pais têm nos filhos, certificar-se com quem o filho está e o que está fazendo é importante, porém, isso é diferente de vigiá-lo e controlá-lo.  Além disso, os pais precisam entender que eles são modelos nessa transição da infância para a vida adulta, chamada adolescência,  pois os filhos aprendem muito mais observando as atitudes dos responsáveis. Os pais podem sim ser firmes, porém cuidando para não perder o respeito e gerar uma relação conflituosa dentro do ambiente familiar. Em situações onde a família ou o próprio jovem não consiga lidar com todas as mudanças que a fase trás, a psicoterapia ajuda muito a estabelecer a comunicação entre a família e o adolescente bem como formas de passar pela adolescência de uma maneira mais equilibrada possível. Nessa fase eles têm muita dificuldade de comunicar aos pais os próprios sentimentos, pois muitas vezes nem eles entendem o que estão  vivendo e pensando e com isso a compreensão se torna complexa e sem respostas. A  terapia vem propor essa sistêmica construção no relacionamento do adolescente com ele mesmo para desenvolver essas relações familiares de forma funcional e também relações sociais saudáveis e construtivas, fundamental nessa fase de grandes mudanças e escolhas.